Por que me cativou assim e agora 
me deixa a míngua neste mar cheio de peixe e nenhum comestível? Se não me 
quisesse de verdade, a míngua deveria ter me deixado a muito, ou melhor, não 
deverias ter me tirado da solidão do mar profundo, para me levar a superfície e 
me deixar vagar no maior dos oceanos. Não se deve fazer isso. Um coração é um 
imenso buraco negro que engole, massacra, derrota, aniquila o eu, quando então 
passamos a ser nós. E nós é mais que eu porque agora não é uno, é duo, e como 
tal já não sabe guiar-se sozinho.
                Tempo venha e me diga: Devo vagar para novos 
rumos ou tentar os mesmo, e mesmo que tortuosos, tentar no mesmo encontra-lo 
reto e plano? Devo eu me aventurar pelo desconhecido conhecido com o intuito de 
viver de novo o que só o futuro pode estabelecer bom ou ruim? Devo eu então no 
âmago do caminho provar da catarse de tudo, mesmo que bom ou ruim, correndo o 
risco de sofrer de novo? Se és o senhor da vida por que não me guia por tua 
sabedoria e me extingue essa sabedoria humana e intuitiva que há muito me tira 
de caminhos simples e me põe a vagar pelos devaneios de minha 
mente?
                O tempo, por que passas tão rápido enquanto 
determinantes da vida, mas lento quando não me arrancas esta angústia? Se me 
sinto assim quanto ao que virá é porque não me revelas futuro e desta forma não 
consigo contemplar o presente, esta dádiva que sentir o real, discípulo do 
passado e mentor do futuro. Se o tempo tem um nome – eu – este ser miserável me 
põe a prova a toda instante com tudo que tem por dentro e se esquece dele mesmo. 
Se não me conhece, e nem a ti mesmo, porque me tomas como único nesta miscelânea 
de parâmetros? 
                Acho que agora devo eu tomar as rédeas da 
situação e fortalecer os alicerces do mito vida, do mito existência. Quando 
existo se parece que eu e tempo somos os mesmos, então minha existência me 
remete a um conhecimento que não tenho, porque não sei ao certo quem é eu e não 
entendo a estratégia do tempo. O mais sensato a fazer agora é esquecer quem me 
cativou, tentar conhecer eu e esperar pelas respostas do tempo. Enquanto eu 
contrapor-me com eu e não me conheceres, padecerei de sofrimento e não 
alcançarei jamais o equilíbrio. Minha existência está calcada no auto 
conhecimento. Só assim poderei dizer quem sou e entender que eu e eu somos o 
mesmo e o temo somos nós que fazemos.

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