quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CORPO E CABEÇA

               Corpo e Cabeça eram dois amigos inseparáveis. Fizeram tudo juntos na infância. Claro que cada um tinha suas aptidões e tinham gostos e ações diferentes, mas ambos conviviam bem contiguamente. O tempo foi passando, e com eles novos desafios, momentos, sensações, mas as idéias já não eram tão concomitantes e os dois começaram seus desentendimentos. Primeiro porque Corpo queria fazer coisas que Cabeça não concordava, e sabia que aquilo poderia fazer mal a Corpo, mas este não se importava, era como se não pensasse. Já Cabeça queria se dedicar as suas coisas e acabava deixando as vontades de Corpo de lado, em prol do seu egoísmo. Segundo porque Cabeça pensava demais e Corpo agia com a razão. Desta forma quase não havia entendimento entre os dois. Um queria e o outro não. Quase como marido e mulher. Mas uma coisa era certa: Cabeça cuidava do Corpo como ninguém e Corpo a retribuía com bons presentes alimentícios, e concordava em ficar parado um pouco enquanto Cabeça se exercitava, apesar de Corpo só pensar em boemia. Certa vez em uma das festas que Corpo adorava ir, se apaixonaram por uma pessoa. Isso não seria bom, já que com interesses diferentes, queriam mais do novo amor para si, inibindo que o outro pudesse aproveitar um pouco mais desta nova situação causando rusgas entre eles. Enquanto Corpo seduzia seu amor por suas lindas formas (quem não eram nada lindas, mas que se aproximava de um padrão criado pela mídia), Cabeça tentava impressionar com sua inteligência. Apesar das contendas vencidas por Cabeça para decidir quem seria melhor opção, quem atraia mais era Corpo, pois a inteligência de Cabeça não era entendida pela outra parte, e as vezes até a afastava. Uma vez que estes dois eram unidos, com Cabeça ficando cada vez mais afastado, Corpo já não se empenhava tanto no novo relacionamento, e sabendo da opção de Cabeça, não mais ficava excitado pelo amor depois da terceira experiência. E foi assim todo o tempo, com todas as pessoas. Enquanto Corpo saciava suas vontades, Cabeça se contentava com sonhos úmidos que satisfaziam um pouco o corpo. A busca contínua de Cabeça e Corpo por alguém que possa corresponder aos anseios dos dois perdurou por algum tempo. Na verdade quem mandava na situação era Cabeça. Corpo saiu atraindo tudo que podia, mas Cabeça era quem no final escolhia de verdade. As vontades de Corpo passavam com seus relacionamentos no nível três, mas Cabeça nunca encontrara alguém que combinasse pelo menos um pouco com seus pensamentos, chegando a achar que ficaria só para sempre. Corpo uma hora ou outra achava “alguéns”, mas Cabeça ficaria para sempre sozinha. Eis que um dia algo inusitado aconteceu! Corpo conheceu outro Corpo. E Cabeça conheceu outra Cabeça, assim de forma apióide, como se o acaso estivesse ali presente para unir algo semelhante e ao mesmo tempo diferente - e na verdade ele estava. Mesmo com toda a química gerada por Corpo, foi Cabeça seduzida. No momento que corpo deveria atuar, foi Cabeça que geriu todo o processo, mostrando quem realmente era e como gostava de estar ali, trocando idéias. Corpos se davam muito bem, com momentos marcantes e quebras de paradigmas. Cabeças se entendiam cada vez mais, e conhecendo coisas fora do seu horizonte de visão, ficou encantada com tudo que ia aprendendo. Corpos já não faziam mais diferença para a paixão, uma vez que satisfaziam (não menos importantes( suas vontades fisiológicas, já que Cabeças, com suas inteligências e conhecimentos, eram o verdadeiro motivo da paixão avassaladora.        

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