terça-feira, 3 de janeiro de 2012

VIDA PULSANTE PARTE I DE I


                 Carlos era um garoto estranho. Não necessariamente estranho, mas diferente. Ele não girava no mesmo movimento que a terra. Ele só não girava. Na verdade ele girava para o lado oposto. Seus pensamentos não seguiam o mesmo pensamento dos demais. Ele sequer conseguia escrever direito. Ele achava que, como ele era canhoto, que sua escrita deveria obedecer a direção da direita para esquerda. Inclusive em certos momentos começou a escrever de ponta cabeça, acreditando assim ser mais fácil para a professora ler enquanto ele escrevia. Com certeza era um garoto muito questionador. Nunca se deu por satisfeito com as informações que a ele vinham prontas. Nunca entendeu direito por que teria que ficar em fila na entrada da pré-escola. Esta era uma imposição difícil para ele aceitar. Se La era o lugar que era, e sobretudo para brincar, por que então em filas deveriam estar? Esta era um história que lembrava muito o seu passado que não viveu. Um passado onde as autoridades mandavam nos cordeiros, época que a opressão vagava pela pátria, sem que ninguém tomasse conta, alguns tentaram, muitos mortos. Talvez ai ele desse um sinal de alguém que não se dava por vencido. Que lutaria até a morte se fosse preciso para sua opinião impor, se fosse preciso. Mãos era necessário. Praticamente nasceu em um mundo pronto, com jovens bandas de propaganda de refrigerante.

                Sua cabeça sempre estava onde os velhos deveriam estar. Por que Carlos pouco se interessava por brinquedos? Brinquedos na verdade eram possibilidade de se fazer gente grande, e a grandeza por tantas desejada, parecia nunca chegar. Por que antes de completar uma casa decimal, as universidades é que estavam em sua cabeça? Por que os cursos de direito? Por que apartamentos, e móveis, e carros, e pessoas, e amigos? Nunca criança, se na mente adulto era. Por vezes desejou que tivesse 32 ou 45 anos para poder desfrutar de todos os benefícios que se poderia ter com esta idade, e se desejasse, se assim viável fosse. Não era possível viver em outra época se não a sua, mas sua cabeça rondava o desconhecido, o aprendido vendo a vida dos outros. Aprendia tanta coisa apenas observando. Alias observar é a grande sacada de quem quer aprender algo. Observe, sinta, deixe fluir.

             Mas esta época não duraria para sempre, ao contrário do que desejava e não queria. Pensou então que seria a hora de crescer. Foram tantos os motivos que o fizeram crescer antes da hora. Nunca falava de sua vida sexual. Teria sofrido algum abuso? Teria tentado algo mal resolvido? Teria se apaixonado e desiludido? Queria mesmo era poder logo acordar e ver que tudo não passou de um sonho, e que poderia ter uma segunda chance. Mas a vida passa para todos. Suas emoções não figuravam das melhores. Como todo adolescente se deixava levar pelos sentimentos, se tornando ora muito feliz e engraçado e outras tantas mal humorado e bravo com a família, não e nunca com os outros, a quem tinha certo receio de mostrar quem realmente era, mas sempre com quem era muito próximo. Talvez fosse os bullings que sofria na escola. Nome bonito que surgiu recentemente, mas que para quem sofre, nunca é bonito e nem nunca sai da memória. Isso o matava por dentro. Isso o enchia de raiva. Por que nunca era reconhecido por ser inteligente? Por que sempre aquele menino bagunceiro chamava mais atenção do que ele? Por que por mais que se esforçasse o mundo lhe dava as costas cada vez que tentava mostrar o quão intelectual havia se tornado? As vezes Carlos tinha a impressão de estar falando outra língua. Que não bastava girar no sentido oposto, que também tinha uma linguagem própria. Assim Carlos decidiu que deveria se fechar em si mesmo. Resolveu então mostrar aos outros o básico do que eles queriam que ele fosse. Sempre escutava que era um garoto bom, que era educado, que era maravilhoso. Mas sabia que estas não eram suas únicas características. Queria gritar. Queria mostrar seu verdadeiro eu que parecia estar anos a frente daquela gente. Na verdade ele se achava normal, problemáticos eram os outros.

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