São
inúmeras as flores que colho no meu jardim. Sim, porque é no meu jardim que
elas florescem. E assim como um curioso apaixonado, tento desvendar seus
segredos, sem que elas percam suas essências, mas que de certa forma possam
desabrochar para mim sem medo, e eu viajo por entre pétalas, acaricio o
receptáculo, me embebedo de néctar e me embuzio de pólen.
Dias
colho Flores de Lótus. São flores que nascem da lama, luta pela sobrevivência,
como todas realiza sua fotossíntese, o sol é seu esculento, busca nele sua
sobrevivência, faz de cada momento sua micro vitória e sua grande conquista
momentânea, sempre pronta, segue para a próxima sem pestanejar, até que tudo se
movimente, e sua vida mude por completo. Sem vilipêndio a qualquer obstáculo
que possa surgir, nada a segura, e ascende assim como fazem a água em vapor,
evoluindo para dar inicio novamente ao processo, não menos doce que a rosa, mas
muito mais dura consigo mesma na transposição de seus obstáculos.
Por vezes encontro rosas. Flores
meigas, lindas, delicadas, inteligentes, estonteantes. Mas não se engane.
Simplesmente por serem belas, não deixam de ferir. Seus espinhos denunciam seu
lado forte, avassalador, devastador, não de raiva, mas de amor. O delicado
envolve a personalidade forte, hipnotizante, capaz de deixar aturdido a
qualquer um. Não é fácil conquistar o amor de uma rosa, não é tão fácil quanto
sentir seu espinho, e talvez a dor do mesmo seja a prova de que possa ter
chegado ao seu interior.
O acaso só me reserva flores especiais,
assim como os girassóis. Quem o vê imagina que sempre esta a buscar somente a
luz do sol, que produz somente o que alguns precisam, que parece fútil, que tem
uma beleza vazia. Mas pro trás de sua luz própria, mesmo embezerrado, seu vivaz
escondido, encontramos uma flor forte, capaz de se reerguer depois de qualquer
vendaval. Ela sabe, ela o é, ela entende, ela compreende, e compreendendo o
mundo ela é feliz.
As flores que colho são escolhas
minhas, e não as seleciono pela beleza, e tão pouco pelos seus atributos. São
suas características peculiares a cada uma que me conquistam e me dominam. Não
sei dizer se sua olência, sua textura ou suas atitudes, o fato é que flores
comuns quando vejo me foge o interesse, tão pouco flores grandes, bonitas,
atraentes, podem como as Aráceas, exalar seu cheiro pútrido que provem do seu
interior, denunciando assim o âmago. O fato é muitas surgem nas nossas vidas, e
mesmo diante de tamanhas vivacidades, belezas e singularidades, cabe a nós
decidir o que é uma erva daninha e corta-la de vez (as vezes erva daninhas
valem mais do que as belas flores).
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