segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MAÇÃ DO AMOR

Uma cena certamente dilaceraria um coração como a que aconteceu e acontece todos os dias. Pelo menos as ruins. Certo de que encontrara alimente, o pobre homem resolveu pegar o suco do chão, mas como estava na presença de um outro, que não mendigo, resolveu ficar estacado ali, como que enleado e confuso na perplexidade que a ação exigia dentro de um arsenal de pensamentos e sentimentos dentro da cabeça do homem, somente para esperar que o outro homem fosse embora. Quando o transeunte foi-se, o mendigo resolveu continuar observando e se certificando que o homem nada percebesse – como se não fosse possível – e ele pudesse enfim finalizar seu intento. Mas aquela situação tocara o coração do viandante que se viu sem saída para a cena e tinha que tomar uma atitude. Sim. Porque no mesmo momento parou e percebeu que se tratava de um outro homem. De alguém que respira, tem sentimento e sente fome. Ele acreditando que era as suas ações e não somente seus pensamento, resolveu voltar e fazer com que aquele mal fosse sanado de certa forma, mesmo que de momento, não só e somente a fome, mas talvez sanar a gana do homem por misericórdia e conseguisse colocar um pouco de amor em um coração. Então como quem espera apenas um sorriso de agradecimento, deus 5 maçãs a aquele pobre homem, que se culpado ou não de seus atos infortúnios, era um produto da falta de compaixão do homem em geral e desprezo da sociedade. Ao passo que recebeu o tão esperado sorriso que encheria seu coração e sua alma de felicidade, continuou seu caminho. Voltando-se para trás novamente percebeu que o homem continuou imóvel somente contemplando o horizonte, que poderia ser um futuro esperançoso ou simplesmente o outro lado da rua. Perplexo com o que poderia passar na cabeça daquele homem, verificou que não era o bicho homem de Manuel bandeira, tão pouco o homem bicho, porque se todos nós somos iguais, um simples mamífero é capaz de amar o outro. Jamais poderíamos igualá-lo aos homens mais iguais que os outros. Seriam estes homens insetos? Homens amebas? Homens vírus? Não sei. Não sei se posso usar a palavra homem, porque homem algum deixaria outro homem a mercê da vida nas ruas, vivendo dos restos dos outros.

Um comentário:

  1. Lembro quando você me contou o acontecido. É realmente tocante. Agora, o mais interessante, é como você conseguiu trazer da oralidade para a crônica do cotidiano, com perfeita harmonia e interesse, esse acontecido. Marcel, não se se você escrevia antes, mas sua escrita deu um salto gigante, desde a última coisa que eu li sua. E esta crônica está linda! E ganha status de um quase conto! Já tentou escrever contos?

    ResponderExcluir